Entre as palavras “policial militar” não é diferente. Seu uso é obrigatório ou não, dependendo da função morfológica que essas duas palavras desempenham.
Bom, para não nos perdemos em divagações, vou logo falar o que a corrente majoritária dos gramáticos preceitua acerca desse traço de desunião entre as palavras “policial militar”.
1º Caso - “Policial” na função de substantivo e “Militar” na função de adjetivo - Obrigatoriamente sem hífen.
Exemplos: Será homenageado o policial militar que se sobressaiu na operação.
O policial militar prendeu o ladrão contumaz.
O policial militar se defendeu de uma injusta agressão.
2º Caso - “Policial Militar” na função de adjetivo composto - Obrigatoriamente com hífen.
Exemplos: Abriu um inquérito policial-militar contra o então bispo de Volta Redonda.
Favor procurar o Destacamento Policial-Militar.
O soldado detém autoridade policial-militar.
Para quem sabe distinguir adjetivo de substantivo ficou muito simples a explicação acima. E para quem não sabe? Quem não sabe vai ficar sabendo agora.
Substantivo - Substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral. O conceito de seres deve incluir os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de grupos, de indivíduos, de entes de natureza espiritual ou mitológica e de uma espécie ou de um dos seus representantes. Exemplos: homem, mulher, cavalo, cidade, árvore, vegetação, senado, Brasil.
Adjetivo - Adjetivos são as palavras que caracterizam um substantivo atribuindo-lhe qualidade, defeito, estado ou modo de ser. Exemplos: bonito, feio, alto, baixo, gordo, magro, triste, alegre, amarelo.
Sutiliezas do Português e do Hífen e meu ponto de vista
Você estará seguindo a corrente majoritária dos gramáticos se usar o hífen como ensinado acima. Mas eu tenho um posicionamento diferente. Não quero que ninguém siga, porque nem eu mesmo sigo. Todavia, é o que penso.
Na frase “O policial militar prendeu o ladrão contumaz”, segundo os gramáticos, não existe hífen entre “policial” e “militar”, porque eles entendem que a palavra “militar” desempenha função de adjetivo, qualificando o substantivo “policial”. Não é um policial qualquer, é um policial “militar”. Poderia ser um policial “civil”, “federal”, “legislativo”, etc., mas é um policial “militar”. O “militar”, nesse caso, seria apenas um caracterizador, uma qualidade do policial. Isso é o que eles entendem. Eu entendo diferente. No meu ponto de vista, a palavra “militar”, na frase em comento, desempenha duas funções: a de adjetivo e a de substantivo. Explico e fundamento. O policial militar não é apenas policial, ele também é militar. O policial militar é um militar estadual, sem contar que a Polícia Militar é força de reserva do Exército Brasileiro. Portanto, o policial militar é policial (substantivo) e militar (substantivo). Por conseguinte, policial militar forma um substantivo composto, e, de acordo com o novo e o antigo Acordo Ortográfico, o substantivo composto é ligado por hífen.
Na verdade, não é bem assim, de uma forma tão simples, que os acordos ortográficos preceituam. O que eles preceituam são os seguintes enigmas:
Formulário Ortográfico de 1943:
Só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas que mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido. Dentro desse princípio, deve-se empregar o hífen nos seguintes casos: 1º -Nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica: água-marinha, arco-íris, galinha-d'água, couve-flor, guarda-pó, pé-de-meia (mealheiro; pecúlio), pára-choque, porta-chapéus,etc. Observação 1ª - Incluem-se nesta norma os compostos em que figuram elementos foneticamente reduzidos: bel-prazer, ês-sueste, mal-pecado, su-sueste, etc.
Novo Acordo Ortográfico:
Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arce-bispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, cifro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva. Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.
Do cotejo dos dois preceitos, conclui-se que não há uma diferença significativa. O Novo Acordo apenas introduziu a seguinte cláusula: "que não contêm formas de ligação". No mais, se equivalem.
Com relação a “policial-militar” com hífen, como é o caso de “inquérito policial-militar”, eu tenho minhas dúvidas se “policial militar” trata-se de um adjetivo composto que forma uma unidade sintagmática e semântica (caso em que o hífen é obrigatório) ou se trata de uma simples locução. Por exemplo, policial rodoviário federal é comumente escrito sem hífen. Porém, se formos obersar o que ensinam os gramáticos, o certo seria "policial rodoviário-federal", uma vez que "rodoviário" e "federal" são adjetivos do substantivo "policial", o que nos levaria a conclusão de que "rodoviário-federal" seria um adjetivo composto.
Locução? Complicou? As locuções são agrupamentos, sequências de duas ou mais palavras que igualmente funcionam em blocos, sem constituírem uma única unidade lexical e semântica. Na escrita, o hífen, em princípio, distingue essas duas realidades linguísticas. Muitas vezes, a distinção entre palavra composta e locução é extremamente complexa, principalmente quando se trata de sequências substantivo+de+substantivo (fim de semana, dona de casa, etc.) e, no caso presente, de adjetivo+adjetivo, uma vez que seus limites são tênues. Não é sem razão que lexicógrafos, professores e estudiosos divirjam quanto ao emprego ou não do sinal diacrítico em muitos casos.
Complicado mesmo esse hífen, e acho que compliquei ainda mais. Para finalizar, gostaria de agradecer à
Andréa Motta, do blog
Conversa de Português, que tirou todas as minhas dúvidas em tempo recorde.
Bibliografia: